A queima de combustíveis fósseis aumentou de forma exponencial durante os últimos 200 anos. As concentrações atmosféricas de dióxido de carbono (CO2) aumentaram a uma taxa sem precedentes. Atualmente é inequivocamente aceite que tal está na base das alterações climáticas globais, com aumentos notáveis na temperatura global, elevação do nível do mar e alterações marinha química do carbono. A absorção de CO2 pela água do mar já diminuiu o pH médio das águas superficiais do oceano em 0,1 unidades, em relação aos níveis pré-industriais. Previsões para o final do século indicam um decréscimo de pH do oceano, entre 0,21 e 0,36U. As possíveis consequências da acidificação dos oceanos (AO) nos organismos marinhos, nos ecossistemas e em bens e serviços que estes proporcionam tem motivado um esforço de investigação crescente. Os efeitos observados até agora são provenientes de experiencias em laboratório, onde o CO2 foi manipulados em escalas de tempo curtos. No entanto, a necessidade de utilizar "experiencias naturais" nos ambientes marinhos específicos ricos em CO2, devido a efeitos naturais ou antropogénicos tornou-se óbvia. Esta abordagem tem várias vantagens sobre experiências AO manipulativas, como o aumento realismo, a possibilidade de medir os efeitos diretos e indiretos sobre os padrões e processos ecológicos e avaliar o potencial de organismos marinhos para se adaptar. Investigações em zonas de desgaseificação de CO2 associadas a atividade vulcânica submarinha de reduzida profundidade, produziram avanços significativos nesta matéria, mas existem poucos locais no mundo disponíveis para este tipo de investigação. Estudos no Mediterrâneo e no Pacífico revelaram efeitos ecológicas devido alterações químicas da água do mar. Tais estudos são agora necessários no Atlântico, uma vez que haverá grandes variações regionais na sensibilidade de organismos marinhos à AO. Outra limitação importante a reduzida replicação nestes estudos, o que aumenta a probabilidade de interação com outros fatores que variam entre os locais, para além do CO2. Estudos a níveis regional e local, como os realizados no Pacífico e Mediterrâneo, são necessários no Atlântico, se se pretende reforçar a confiança nas previsões dos efeitos de AO sobre o ecossistema global. Zonas de desgaseificação submarina de CO2 são comuns em toda a dorsal meso-atlântica, incluindo a Islândia e os Açores. No arquipélago dos Açores, a zona melhor estudada é o Monte submarino D. João de Castro. Outras áreas mais próximas da costa foram identificados em torno das ilhas de S. Miguel e Faial. As caracterizações iniciais da composição das descargas gasosas nessas aberturas indicam uma dominância pelo CO2 (> 90%), com níveis mais baixos de compostos tóxicos (H2S, H2 e CH4), o que os torna adequados para estudos de acidificação. Da mesma forma que na Papua Nova Guiné, México, Japão e do Mediterrâneo, será necessário uma monitorização biogeoquímica detalhado para identificar gradientes de pCO2 e reduzir os potenciais fatores de confusão com calor, salinidade, alcalinidade e outras emissões vulcânica para além de CO2. A presente proposta destina-se a recolher mais evidências in situ sobre os impactos da AO induzida pelo CO2 em diferentes tipos de povoamentos marinhos costeiras (bentónicos e pelágicos) em águas pouco profundas dos Açores com zonas de desgaseificação de CO2. O estudo irá comparar dois locais de desgaseificação, na Ilha São Miguel (Ribeira Quente) e na ilha do Faial (Ponta da Espalamaca). Uma grande vantagem para a presente proposta é que a monitorização da química do carbonato nos locais propostos já está em curso, e este trabalho anterior, realizado pelas equipas do UAC e IMAR irá suportar as experiencias in situ previstas. Um desenho experimental assimétrico será utilizado14, onde os níveis de pCO2 serão medidos em vários locais de desgaseificação e em vários locais de controlo, com características semelhantes, mas sem atividade de desgaseificação. Esta abordagem multidisciplinar, não foi aplicada no Oceano Atlântico, mas no Pacífico e Mediterrâneo, produziu artigos de grande relevância científica e enorme impacto mediático. Assim, este projeto aportará uma excelente contribuição para avaliar a generalidade dos padrões de respostas observados, dentro e entre regiões. Estudos anteriores já revelaram que o CO2 elevado pode agir de forma aditiva ou sinérgica com outros fatores ambientais 9,15. No entanto, dada a falta de replicação espacial, estes outros fatores são geralmente vistos como dificuldades estudos feitos em zonas de desgaseificação naturais de CO2. Nesta proposta, comparam-se dois locais dominados por emissões de CO2, mas diferindo em outras características, tais como a profundidade, o tipo de substrato e a temperatura dos fluidos hidrotermais associados. Com o desenho experimental proposto pretende-se fornecer previsões sobre os efeitos de CO2 (tanto acidificação e aquecimento) nos ecossistemas centrais do Atlântico.