Vénus é o planeta mais próximo da Terra, sendo, por isso, esperado ser o mais semelhante em termos de geologia, no entanto, não é isso que se comprova. As imagens de radar revelam que o planeta é demarcado por inúmeros vulcões, porém, não se sabe se o planeta é geologicamente ativo, sendo necessárias medições para o estudar.
A ideia de utilizar balões para o estudo dos ruídos distantes da Terra começou na Guerra Fria, quando os EUA lançaram um projeto ultrassecreto para espiar os testes das armas nucleares soviéticas que consistia em aplicar microfones em balões que flutuavam na atmosfera de forma a que pudessem captar a frequência da vibração do solo no caso de uma explosão nuclear. A baixa frequência gerada pela vibração do solo permitia que esta se propagasse até longas distâncias na atmosfera, sendo assim reconhecida pelos balões que lá estariam presentes. Apesar de se constituir um bom projeto, o seu custo era considerado demasiado elevado, levando à sua eventual desativação.
Estagnada durante décadas no domínio da meteorologia, foi a partir dos anos 2000 que David Mimoun, um cientista planetário da Universidade de Toulouse (França), e os seus colegas começaram a desenvolver esta ciência, executando experiências com balões para exploração espacial, especificamente para o estudo de sismos extraterrestres.
A análise dos sismos é uma das principais formas para estudar o interior de um planeta. Em planetas com atmosferas mais finas, como Marte, a prática da medição dos sismos é normalmente efetuada diretamente no solo. Porém, no caso de planetas com atmosferas mais densas como Vénus, com elevadas pressões (semelhantes à do fundo do oceano) e temperaturas médias da ordem dos 450⁰C, este processo revela-se ineficaz.
Os cientistas já experimentaram utilizar orbitadores para detetar sismos em Vénus, mas os balões detetores de sismos revelam ser a melhor opção, permitindo fornecer uma melhor resolução que os demais equipamentos.
Em 2021, a equipa de Mimoun concebeu e anexou micro-barómetros a 16 balões lançados das ilhas Seychelles, ao largo da costa da África Oriental, que, tendo-se afastado milhares de quilómetros, registaram ondas sonoras de baixa frequência. Estas alterações na pressão do ar assemelhavam-se a leituras terrestres de um terramoto de magnitude 7,3 que teria ocorrido próximo da ilha indonésia das Flores a 14 de dezembro, revelando que as ondas sonoras tinham sido produzidas pelo terramoto. Através das alterações na pressão do ar, os investigadores foram capazes de identificar o epicentro do sismo e calcular a sua magnitude.
Já estão previstas duas missões da NASA para visitar o planeta, e Mimoun e a sua equipa esperam que os balões detetores de sismos façam parte da próxima grande missão. Adaptados para sobreviver à atmosfera de Vénus, os balões poderão ser capazes de detetar alterações na pressão do ar que revelem pistas sobre as erupções vulcânicas do planeta e dos seus planaltos e poderão ajudar os investigadores a compreender por que razão a Terra e Vénus, tão semelhantes em tamanho e distância do Sol em relação aos outros planetas, seguiram caminhos tão diferentes.