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Instituto de Investigação
em Vulcanologia e Avaliação de Riscos

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Referência Bibliográfica


CABRAL, J. (2015) - Avaliação dos perigos vulcânicos e fenómenos associados na Ilha do Fogo (Cabo Verde): implicações para o planeamento de emergência e ordenamento do território. Tese de Doutoramento no Ramo de Geologia, especialidade em Vulcanologia. Departamento de Geociências, Universidade dos Açores, 281p.

Resumo


​O arquipélago de Cabo Verde é composto por 10 ilhas e vários ilhéus de origem vulcânica, sendo a ilha do Fogo a única onde se registaram erupções históricas. É neste contexto que o presente trabalho se debruça sobre a avaliação dos perigos vulcânicos e fenómenos associados nesta ilha, e nas respetivas implicações em termos de planeamento de emergência e ordenamento do território.
Para se compreender melhor o vulcanismo da ilha do Fogo, fez-se o enquadramento geotectónico do arquipélago e da ilha, foi analisada bibliografia especializada e cartografadas as principais formas e produtos vulcânicos relacionados com a atividade mais recente. Foram também analisados e calculados os parâmetros morfométricos dos cones de escórias, comparando-se os resultados obtidos com os determinados para outras regiões vulcânicas.
Paralelamente, fez-se a pesquisa, revisão e análise de todos os relatos encontrados sobre erupções vulcânicas e sismos históricos ocorridos na ilha do Fogo. Constatou-se que desde o ano de 1500 ocorreram cerca de 31 erupções vulcânicas localizadas no interior da caldeira do Vulcão do Fogo e no Pico do Fogo, cujos estilos eruptivos foram essencialmente havaiano e estromboliano e que tiveram significativos impactes económicos, sociais, ambientais e culturais.
Com base na caracterização da história eruptiva desde 1500 identificaram-se os diversos perigos vulcânicos diretos e indiretos. Os primeiros correspondem às escoadas lávicas e piroclastos de queda de natureza basáltica, e gases vulcânicos. Os segundos são, sobretudo, os sismos que antecederam os vários episódios eruptivos.
Para se efetuar a análise da suscetibilidade ao desenvolvimento de escoadas lávicas, realizaram-se vários ensaios utilizando o modelo de simulação “Grapel 4”, incluído na ferramenta de SIG designada por VORIS, para se determinarem os valores mais adequados para os parâmetros da modelação. Concluiu-se que o modelo numérico de elevação de terreno com células de 50 metros era o mais indicado. As áreas fonte consideradas são as diretamente relacionadas com a distribuição dos centros emissores pré-existentes e com as estruturas tectónicas. Foram assim produzidas duas cartas de suscetibilidade a escoadas lávicas, uma ao nível da ilha e outra considerando apenas as áreas fonte situadas no interior da caldeira. Ambas foram posteriormente utilizadas nos estudos de vulnerabilidades.
No que se refere às vulnerabilidades, analisaram-se os principais elementos expostos, incluindo pessoas, edifícios, estradas e pontos de água para os perigos sísmico e de escoadas lávicas.
Relativamente ao perigo sísmico, tomou-se como área de estudo o concelho de Santa Catarina, uma vez que os sismos mais fortes sentidos na ilha estiveram relacionados com a ocorrência de erupções vulcânicas e é neste município que se localizam os vários centros eruptivos históricos, em particular os das erupções vulcânicas de 1951, 1995 e 2014. Neste contexto, utilizou-se a Escala Macrossísmica Europeia (EMS-98, Grunthal, 1998) para a definição das classes de vulnerabilidade do edificado, tendo-se constatado que 64,6% das habitações se encontra na classe mais vulnerável. Com base na classificação efetuada foram criados vários cenários para sismos com intensidades de grau V a X. A metodologia utilizada para avaliação das vulnerabilidades no que se refere ao perigo sísmico pode ser aplicada aos restantes municípios da ilha do Fogo e a outros municípios do arquipélago.
Foram também analisados os elementos expostos às escoadas lávicas, tendo em consideração as duas cartas de suscetibilidades obtidas. Foram quantificadas as áreas passivas de serem afetadas pelas escoadas lávicas de acordo com o grau de suscetibilidade e observados os elementos expostos a tal perigo que se localizavam no interior dessas áreas, tais como edificado, estradas e pontos de água.
Na fase final da elaboração da tese, mais concretamente a 23 de novembro de 2014, ocorreu uma nova erupção vulcânica na ilha do Fogo, cuja descrição sumária se apresenta. O trabalho realizado durante o decurso da atividade eruptiva permitiu produzir um mapa das escoadas lávicas. Verifica-se, assim, que foi coberta uma área da ordem dos 4,67 km2 no interior de Chã das Caldeiras e emitido um volume de lavas de cerca de 5,6 x107 m3, o que resulta numa taxa média de efusão de 7,2 x 105 m3/d, isto é, 8,4 m3/s. A erupção levou à evacuação da totalidade da população residente em Chã das Caldeiras, tendo-se registado a destruição da maioria do edificado e outras infraestruturas em Portela, Bangaeira, e no ilhéu de Losna e ainda a cobertura de uma significativa área agrícola.
O evento eruptivo de 2014 veio confirmar a importância de se reequacionar o ordenamento do território e o planeamento de emergência na ilha do Fogo, assim como a necessidade de se implementar um programa de monitorização e vigilância sismovulcânica baseado na aplicação de técnicas geofísicas, geodésicas e geoquímicas, cuja análise integrada possibilite o desenvolvimento de um sistema de alerta e aviso eficaz em termos de proteção civil.
 

Observações


Anexos