As catástrofes naturais, em especial os movimentos de vertente, têm provocado ao longo dos anos milhares de vítimas e elevados prejuízos materiais em todo o mundo. O arquipélago dos Açores, devido ao seu peculiar enquadramento geodinâmico e geográfico, é por excelência um laboratório natural para o desenvolvimento de estudos relacionados com os processos de instabilidade geomorfológica. Prova de tal facto são os inúmeros movimentos de vertente que têm ocorrido na região desde o seu povoamento até aos dias de hoje, na sequência dos quais se registaram vítimas mortais e avultados prejuízos materiais, sociais e culturais.
Com o principal objectivo de detectar e monitorizar pequenos movimentos do solo, indicadores de instabilidade, foi seleccionado um talude que já havia no passado sido afectado por fenómenos de instabilidade geomorfológica. O talude em estudo está localizado na Estrada Regional, na vila da Povoação, e designou-se por “Talude da Estrada Regional”. Ao longo dos últimos anos, nomeadamente em Outubro de 1997 e Fevereiro de 2002, ocorreram deslizamentos de tipo rotacional/translacional desencadeados por precipitações intensas e associados à presença de depósitos piroclásticos não consolidados, caracterizados por baixos valores dos parâmetros resistentes.
Assim, sobre este talude foi implementada uma rede de monitorização geodésica com o recurso a uma estação total automática. A rede instalada, implementada em Janeiro de 2004, é constituída por 18 marcas para a medição com o recurso a uma estação total e/ou GPS. A distância entre o ponto estação e os restantes pontos de observação varia entre os 40 a 125 m.
Desde Abril de 2004 até Junho de 2006 foram realizadas 9 campanhas de aquisição de dados, tendo-se obtido taxas de deslocamentos máximas na ordem dos 57 mm. No que diz respeito ao processamento dos dados obtidos nas observações, recorreu-se ao método dos mínimos quadrados para obter os erros prováveis, considerando um intervalo de confiança de 95%. As precisões resultantes, no global das épocas de observação, foram da ordem de grandeza de ±1mm. Neste trabalho apresentam-se os resultados obtidos e discutem-se as 9 campanhas levadas a cabo no período temporal amostrado.
Até à presente data, os deslocamentos observados ainda não provocaram estragos. Contudo, o cenário mais provável de ocorrer será a evolução para uma ruptura rápida do terreno que se encontra a ser monitorizado, aquando de uma solicitação externa (e.g. precipitação forte ou sismo).
Presentemente, o processo de instabilidade confirma-se pela própria morfologia do terreno e por fendas de tracção identificadas na área de estudo. Face a este cenário, a massa deslocada poderá a curto/médio prazo provocar efeitos sobre as moradias, pessoas e bens localizados no sopé do talude.