A deteção, a nível global, de ondas acústicas de baixa frequência remonta ao final do Séc. XIX, quando, em 1883, no decurso da erupção paroxismal do vulcão Krakatoa, na Indonésia, pequenas flutuações da pressão atmosférica foram registadas por barómetros distribuídos por todo o mundo. Este evento, bem como a explosão associada ao grande meteoro siberiano, ou evento de Tunguska, em junho de 1908, despertou o interesse pelos infrassons e pela construção de microbarómetros, os quais passaram a ser utilizados em diversos estudos ao longo do Séc. XX.
Nos últimos anos deram-se grandes avanços na monitorização da atividade vulcânica, por diversas instituições em todo o mundo. A utilização de técnicas de infrassons pela Universidade de Florença (UNIFI) tem permitido caracterizar com detalhe erupções em curso, nos vulcões Etna e Stromboli, bem como prever, com antecedência de algumas horas, mudanças do comportamento da erupção para fases mais violentas.
Em 1996, de modo a promover a redução de armamento nuclear e prevenir a sua proliferação a outros países, foi assinado o Tratado de Proibição Total de Ensaios Nucleares (CTBT). De modo a garantir que todos os ensaios nucleares sejam detetados, foi criada uma Comissão Provisória da Organização do CTBT (CTBTO), a qual promove um regime de verificação único e abrangente, que se baseia em três pilares: O Sistema Internacional de Monitorização (IMS), o Centro Internacional de Dados (IDC), sediado em Viena, e Inspeções Locais (OSI), realizadas no terreno.
O IMS utiliza quatro tecnologias: sísmica, hidroacústica, infrassons e radionuclídeos, respetivamente para deteção de explosões nucleares de origens subterrânea, submarina, atmosférica e interseção de partículas radioativas em circulação na atmosfera. É neste contexto que Portugal participa no tratado, com a instalação de 3 estações do IMS nos Açores, nomeadamente nas ilhas das Flores e Corvo, onde existem sensores sísmicos (de fase T) para deteção de sinais hidroacústicos; na ilha Graciosa, onde se encontra uma estação de infrassons; e em Ponta Delgada, onde se localiza uma estação de radionuclídeos.
Para além dos objetivos para que foi desenvolvida, a rede de estações do IMS também tem sido progressivamente utilizada para aplicações civis e científicas, como são o caso do acompanhamento de lançamento de foguetões, da melhoria de modelos atmosféricos e da monitorização de eventos extremos, como tsunamis, erupções vulcânicas e grandes tempestades.
A estação de infrassons IS42, localizada na zona central da ilha Graciosa, foi construída e certificada pela CTBTO, com a colaboração do Instituto de Investigação em Vulcanologia e Avaliação de Riscos da Universidade dos Açores (IVAR), em 2010, sendo este último responsável, desde então, pela sua gestão, operação e manutenção.
Os dados da estação IS42 têm sido muito importantes para a missão da CTBTO e o IVAR tem vindo a desenvolver um programa de monitorização de atividade vulcânica e de outros eventos extremos, por técnicas de infrassons. Fruto da colaboração entre o IVAR e a UNIFI, ao abrigo do projeto europeu ARISE2, foi possível, a título de exemplo, correlacionar observações locais de atividade eruptiva explosiva, nos vulcões Etna e Stromboli (Itália) e Grímsvötn (Islândia), com deteções remotas de infrassons da estação IS42, respetivamente a cerca de 3 700 e 2 900 km de distância. Mais recentemente, em janeiro do corrente ano de 2022, a estação IS42 registou atividade explosiva associada à erupção do vulcão Hunga Tonga–Hunga Ha'apai, no Sul do Oceano Pacífico.
Para além da estação IS42, e para melhorar a monitorização da crise sismovulcânica da ilha de São Jorge, foi instalada a estação portátil de infrassons SJ1 na zona noroeste da ilha, conforme imagem em anexo. Esta estação foi cedida pela UNIFI no âmbito da sua colaboração com o IVAR em outros trabalhos científicos em curso.