Com o projecto DISPLAZOR pretende criar-se uma rede de pontos para observação GPS nas ilhas do Faial, Pico e S. Jorge. O objectivo dessa rede de pontos é quantificar deslocamentos provocados por movimentações tectónicas, vulcânicas e escorregamentos.
As deformações neotectónicas intra-ilha e inter-ilhas podem ser provocadas por rotura sísmica na densa rede de falhas activas que atravessa aquelas ilhas e as regiões imersas adjacentes (Madeira, 1998). Contudo, parte dos deslocamentos neotectónicos podem ser assísmicos conforme descrito por Machado e Nascimento (1968) após a crise sísmica de Maio de 1958 associada à erupção dos Capelinhos. Por outro lado existem evidências geológicas e sismológicas de que o regime tectónico transtensivo nos Açores pode manifestar-se sob a forma de eventos sismicos em falha normal, em desligamento ou com movimentação oblíqua, podendo ocorrer "decoupling" no espaço e no tempo (Madeira, 1998). O recente sismo de 9 de Julho de 1998, com epicentro 5 km a NE do Faial, mostrou também a possibilidade de ocorrer sismicidade desencadeada em acidentes tectónicos adjacentes à falha que gerou o sismo principal. Aquela sismicidade originou deformação superficial em falhas emersas no Faial (Madeira et al., in press).
Do ponto de vista do vulcanismo as ilhas do Faial, Pico e S. Jorge contam com dois vulcões activos do tipo central (Vulcão da Caldeira e Vulcão do Pico) e três zonas de vulcanismo fissural. A reactivação de qualquer destas estruturas, nas quais ocorreram 9 erupções em tempos históricos (Weston, 1963/64), poderá originar deformações do tipo empolamento ou deflacção.
Os escorregamentos, a diferentes escalas, ocorrem com frequência nas ilhas dos Açores. Estes fenómenos podem ser desencadeados por vibração sísmica, deformação vulcânica ou por condições meteorológicas adversas em áreas favoráveis devido ao declive, litologias incoerentes e estrutura geológica a favor do declive. Existem evidências geológicas de colapso de sectores de edifícios vulcânicos na ilha do Pico e registos históricos de escorregamentos associados a erupções e a sismos. Este tipo de evento pode ser a principal causa de mortes em consequência de catátrofes geológicas. O maior número de mortes num acidente geológico nos Açores ocorreu em 1522 quando um escorregamento, desencadeado por um sismo, vitimou cerca de 5000 pessoas e destruiu a vila capital de S. Miguel (Frutuoso, 1583?).
O estabelecimento de uma rede de pontos, criteriosamente escolhidos com base no actual conhecimento da neotectónica, vulcanologia, condições litológicas e estruturais nas três ilhas, permitirá executar observações GPS periódicas para controlo de riscos geológicos; a detecção de uma crise sísmica, tectónica ou vulcânica, através da rede do SIVISA na área da rede de pontos a implantar poderá estabelecer a necessidade de uma campanha de reobservação específica; no caso de ocorrência de um evento a existência de campanhas de observação GPS anteriores é fundamental para quantificar as deformações associadas a esse acontecimento. A análise do conjunto de dados a obter permitirá efectuar avaliações do risco potencial, quantificar deformações associadas aos três tipos de processos geológicos e fornecer informação relevante à Protecção Civil Regional.