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em Vulcanologia e Avaliação de Riscos
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Referência Bibliográfica


MEDEIROS, J. (2018) - Avaliação do impacto de erupções explosivas no vulcão do Fogo na economia do turismo do concelho de Vila Franca do Campo (Ilha de São Miguel, Açores). Dissertação de Mestrado em Vulcanologia e Riscos Geológicos, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade dos Açores, 129p.

Resumo


​As regiões vulcânicas ativas, como as ilhas dos Açores, oferecem condições de excelência propícias ao desenvolvimento de atividades assentes na natureza, como é o caso do turismo, um dos principais eixos de crescimento económico desta região. No entanto, e embora as erupções vulcânicas não sejam, regra geral, dos perigos geológicos que ocorrem com maior frequência, um próximo evento vulcânico nos Açores poderá ter importantes consequências ao nível do turismo. Desta forma, torna-se fundamental avaliar a sua vulnerabilidade aos perigos vulcânicos com a finalidade de se tentar mitigar o risco associado.

A história eruptiva de São Miguel, contabiliza pelo menos 33 erupções subplinianas e plinianas nos últimos 5000 anos, revelando-a como a mais ativa dos Açores, com a maior frequência eruptiva de eventos explosivos. O vulcão do Fogo, localizado na parte central de São Miguel, embora o vulcão que apresenta menor frequência eruptiva dos três vulcões centrais ativos na ilha, é o único que foi palco de uma erupção pliniana nos últimos 5000 anos.

Os piroclastos de queda e os piroclastos de fluxo (PDCs) são os produtos vulcânicos mais comuns em erupções explosivas. Os produtos de queda são os que atingem maior dispersão, devido à sua capacidade de afetar grandes áreas, dependendo da magnitude da erupção e de fatores externos como a direção e intensidade do vento. Os PDCs são o perigo vulcânico responsável pelo maior número de vítimas mortais e com maior poder destrutivo devido à temperatura, pressão e carga de partículas no fluxo.

Com o objetivo de avaliar a vulnerabilidade a estes perigos vulcânicos, o presente trabalho incide na elaboração de dois cenários eruptivos para o vulcão do Fogo: o mais provável, que corresponde a uma erupção subpliniana com índice de explosividade vulcânica (VEI) 4, semelhante à erupção histórica de 1563, e o pior cenário possível, uma erupção pliniana de VEI 5 com as mesmas características da erupção que ocorreu há aproximadamente 4500 anos, Fogo A. Para avaliar as áreas suscetíveis de serem afetadas por estes perigos, bem como o potencial impacto no setor do turismo, foram realizadas simulações vulcânicas utilizando a ferramenta VORIS 2.0.1, integrada num Sistema de Informação Geográfica. Para as simulações de piroclastos de queda, utilizou-se um modelo semi-analítico de advecção-difusão, e para as simulações de PDCs, recorreu-se a um modelo de cone de energia.

As simulações dos cenários de piroclastos de queda foram realizadas admitindo os parâmetros eruptivos da erupção subpliniana de 1563 no Fogo (VEI 4), com um volume de 1 km3 e uma altura da coluna eruptiva de 18 km, e da erupção pliniana do Fogo A (VEI 5), com um volume de 3,2 kme uma altura da coluna eruptiva de 27 km. Em todas estas simulações, a dimensão das partículas inseriu-se no intervalo de -4 a 4 phi. Foram ainda considerados cenários com os padrões de vento dos Açores, para as condições típicas de verão e inverno, bem como cenários sem a influência do vento. Nestes últimos cenários, simulou-se a área que ficará coberta por um metro de espessura de material pomítico, tendo em conta as isopacas para um metro estabelecidas por Walker e Croasdale (1971) relativas às mesmas erupções do Fogo já referidas. Para as simulações da extensão máxima potencial dos PDCs, os parâmetros de entrada considerados foram as alturas de colapso de 300 e 500 m (cenários de VEI 4 e VEI 5, respetivamente) e um ângulo de inclinação constante de 6°.

Embora numa futura erupção as condições reais dos ventos determinem para onde será depositado o material piroclástico ejetado, as simulações realizadas mostram que, durante os meses de verão, os ventos predominantes que sopram para sudeste da caldeira farão com que Vila Franca do Campo seja o município mais afetado, e que nos meses de inverno as velocidades de vento mais elevadas dispersam o material para leste, afetando principalmente a freguesia de Furnas no município da Povoação. Nos cenários em que não se considerou a influência do vento, verifica-se que o material depositar-se-á num campo aproximadamente circular em torno da área fonte, afetando os municípios localizados em torno do vulcão, nomeadamente Lagoa, Ribeira Grande e Vila Franca do Campo, com cerca de um metro de espessura. No caso dos PDCs, verifica-se que a área afetada será a mesma em torno do vulcão, com PDCs que poderão atingir distâncias máximas superiores a 9 km (VEI 4) e a 11 km (VEI 5) da fonte.

A proximidade do concelho de Vila Franca do Campo ao vulcão do Fogo determinou a sua escolha como área de estudo para a inventariação e caraterização dos elementos expostos relacionados com o setor do turismo. Foram inventariados e cartografados 140 edifícios, dos quais 46 correspondem a estabelecimentos destinados a alojamento (33%), 51 à restauração (36%), 14 à animação turística (10%) e 29 à cultura (21%). A integração destes dados com os resultados das simulações de piroclastos de queda e de PDCs, permite saber quantos e quais os edifícios e infraestruturas no concelho que se encontram nas áreas de dispersão dos piroclastos de queda, e nas áreas de extensão máxima dos fluxos piroclásticos.

A avaliação da perda económica gerada no setor do turismo restringiu-se às unidades de alojamento, e foi efetuada tendo em conta três cenários económicos, nomeadamente (1) o de destruição da totalidade dos edifícios, (2) de destruição do edificado afetado por espessuras de cinzas iguais ou superiores a 20 cm, resultantes da queda de material de uma erupção  e VEI 4 nos meses de verão, e (3) de destruição do edificado contito na área de extensão máxima dos PDCs resultantes de uma erupção de VEI 4. Através da receita anual individual de cada estabelecimento, estimou-se uma receita anual total de cerca de 9,5 milhões de euros para o cenário hipotético de que a capacidade de alojamento está totalmente ocupada. Para todos estes cenários determinou-se a perda atualizada da receita desta indústria no concelho ao longo de 30 anos, tendo em conta diferentes taxas de atualização e taxas de ocupação. A análise desta avaliação permite concluir que o cenário que apresenta uma perda de maior expressão é o de destruição total, o qual engloba a totalidade dos edifícios inventariados, considerando uma taxa de ocupação de 0,65 e uma taxa de atualização de 0,02, traduzindo-se numa perda atualizada de aproximadamente 145 milhões de euros.

Observações


Anexos